domingo, 29 de agosto de 2010

Passos.


    Os olhos cansados, meio avermelhados, doem de tanto tentarem se manter alertas. As pálpebras quase caem, os olhos quase se fecham, mas o barulho de pés andando pela casa não me deixam dormir. As lembranças passam como um filme nas paredes da sala, com a luz da lua refletindo pela janela. Enigmática, Hipnótica. Os olhos ficam de novo abertos, na espreita, esperando mais pistas, mais rastros, registros para poder te encontrar.
    Mais uma noite vai se passando, lenta, pesarosa, e você não chega, não volta. Todos os sentidos se misturam, se invertem, se inventam. As cores pintam as notas músicas que saem do velho piano no canto da sala. Ele agora toca aquela velha melodia que nos embalava e encantava, a mesma que você cantava para mim no pé do ouvindo, como uma canção de ninar que me fazia dormir. Feliz, quente, segura, nos braços teus.
    Hoje só resta o sofá, a noite fria, a luz da lua, o piano, as cores, o teatro, o drama, a minha espera. Hoje as horas só passam, eu canso, desanimo. Mas a melodia volta, o sol se põe, a lua ilumina a sala, os pés andam, o espetáculo começa e tudo volta de novo. E agora, de novo.