domingo, 26 de setembro de 2010

Partida.

Há um bom tempo atrás, abristes a porta da frente e fostes embora. Nem se quer se importou comigo, apenas se foi e me deixou aqui, sozinha... E que grande ironia é mesmo a vida! Hoje, quando tenho acabado de fazer as malas e olhado para trás, pela milésima vez com medo de desistir, você volta. Me desarma, me faz pensar. Mas dessa vez não vai ser como das outras, não vou mais esperar. Sabe como é, a janela ficou aberta.

Através dela eu vi um mundo lá fora. Vi carro, pessoas, pássaros... Vi vida! É fácil não querer algo melhor quando não se conhece além, mas eu conheci e não quero mais esse pouco pra mim. Essa mortificação, esse cheiro de mofo e naftalina na minha vida. 

Você voltou igual, aparentemente pelo menos, com as mesma palavras, as mesmas promessas, o mesmo mundo a oferecer e me encontrou assim, tão mudada. Nosso olhos se encontraram e eu não mais te reconheci, não consegui identificar aquele sentimento tão intenso dentro de mim. Não que eu tenha ficado insensível, pelo contrário, te ver aqui de volta mexeu demais comigo e exigiu de mim uma concentração e força de vontade gigantesca.

Mas mudou, ta diferente, menos intenso. Nossos desejos mudaram. Antes era tudo velho com aparência de novo, eram sempre as mesma velhas fotografias nos porta-retratos. Mas agora não, as coisas realmente mudaram. Antes era engraçado, enquanto eu era inverno dentro de ti se fazia verão e quando eu, mesmo que momentaneamente, resolvia ser calor, você vinha e me transformava em frio.

Hoje eu brilho, crio, me reinvento. Sou verão, inverno, outono, primavera. Tudo junto. Sou quente e gélida ao mesmo tempo. Você era meu tudo e hoje se tornou tão pouco... Chega a doer ver esse teu rosto pasmo ao me olhar firme com as malas na mão, ao ver que dessa vez eu vou embora de vez. Que mesmo que você se ajoelhe, sabe que não vai mudar minha decisão.

Eu esperei muito tempo por algo tão pequeno, agora sou grande demais pra me guardar em mim mesma. Sinto necessidade de doar um pouco de mim para o mundo. Em buscar, encontrar coisas novas. Novas borboletas, novos braços, novos olhos... Um novo alguém bem diferente de você.

Acho que não precisarei falar todo o discurso que preparei pra te dizer em todo esse tempo. Acho que esse nosso breve olhar já disse bem mais do que eu previa. Então, quer entrar? Pode ficar a vontade... Que eu já estou de partida.

1 comentários:

Clara D. disse...

perfeito amiga , perfeito